Classificação PG-13 (beijos, e uma leve insinuação de algo mais)
Quilômetros
Texto por Dani Souza
Data da criação: 25 de maio de 2017
Uma ligação era tudo a que tinha direito no
momento. Para quem ligar não era sequer motivo de dúvida. Conseguia ouvir o som
calmo, um leve tom de brincadeira, o som do amor em sua voz. Embora não
merecesse este último quesito. Não agora...
A varios cientos de kilómetros
puede
tu voz darme calor igual que un sol
y
siento como un cambio armónico
va
componiendo una canción en mi interior
A centenas de kilometros
Sua voz pode me aquecer como um sol
E sinto como uma troca harmônica
Vai compondo uma canção no meu interior
Ouvia o som de chamada no seu ouvido, ribombava de maneira estrondosa e
ao mesmo tempo refletia nas batidas de seu coração. Começou contando quantos
toques, mas a ansiedade, o desejo de ouvi-la o fez perder o ritmo.
- Alô! – ali estava a voz de sempre, lhe transbordando com lembranças,
os sonhos em comum, os beijos trocados, fechou os olhos e respirou fundo,
poderia crer que sentia seu perfume adocicado. – Alô?
A incerteza no timbre o acordou do devaneio. Seu coração disparou.
Estaria fazendo o certo?
- Alô! – sussurrou, no entanto não sabia se tinha intenção de não ser
escutado, ou a emoção que havia enfraquecido sua voz.
- Eric? – dúvida. Um baque no coração dele.
O que estava fazendo? Seu coração disparou de dor.
Sé que seguir no suena lógico
pero no
olvido tu perfume mágico
y este
encuentro telefónico
me ha
recordado que estoy loco por ti
Sei que seguir não seria lógico
mas não esqueço seu perfume magico
E este encontro telefônico
Me lembrou que estou louco por ti
- Ana? Sim, sou eu. Eric! – falou num rompante.
- Aonde você está? Por que os sussurros? – ela o imitou, fazendo com que
o rapaz risse.
- Estou preso... Não é nada sério... – ele tentou acalmá-la assim que
ouviu a exclamação de horror do outro lado da linha – Dormi ao volante, bati num
poste, por sorte estou inteiro, embora não possa dizer o mesmo do carro.
- Mas...
- Olha, quer dizer, escuta. Só tenho direito a esta chamada. Precisava ouvir
você, saber que está bem. Dizer que eu vou ficar bem – a voz ficou embargada
com as lágrimas – Ana, eu amo você. Nunca duvide disto, está certo?
- Eric... – ele percebeu na simples entonação que estava fazendo a
garota chorar. – Eu amo você também. Mas...
Que todo el mundo cabe en el teléfono
que no
hay distancias grandes para nuestro amor
que
todo es perfecto cuando te siento
tan
cerca aunque estés tan lejos
Que o mundo todo cabe num telefone
Que não há distâncias grandes para o nosso amor
Que tudo é perfeito quando te sinto
tão perto ainda que esteja tão longe
Eric puxou a respiração, seu fôlego estava findando. Ele sorriu com a
confissão, embora o mas tenha sido um
alerta.
- Shhh, não importa. Vamos falar de outra coisa. O que vai fazer nesse
verão? – quase acrescentou sem mim,
mas era desnecessário, ela já estava se sentindo mal.
- Tenho algumas viagens reservadas... faculdade, cursos. Você pode imaginar
o que mamãe programou. – ela fez uma breve pausa, ganhando tempo – Estaremos indo
para a Europa, daqui a uma semana.
Eric soltou o ar de vez.
- Entendo. Eu quero que se divirta! Você merece Ana. Queria estar a seu
lado, mas não é possível.
- Você sumiu... sim, dois dias – ela respondeu uma pergunta que sabia
estar por vir, ele sorriu por conhecê-lo tão bem – Queria que tivesse ido ao
nosso jantar. Esperei por duas horas, na verdade saí quando o restaurante
fechou. – ela confessou num soluço – Se realmente me ama, o que te fez fugir?
A varios cientos de kilómetros
tiene
un secreto que decirte mi dolor
en
cuanto cuelgues el teléfono
se
quedará pensando mi corazón
A centenas de kilometros
Tem um segredo que revela a minha dor
Enquanto desliga o telefone
Continuarei pensando em meu coração
Eric respirou fundo, não queria contar a verdade. Era um segredo tão
pesado e sabia que seria devastador para Ana.
Olhou em volta, o quarto branco, lençóis brancos, tudo tão estéril, a
máquina a seu lado apitou, ele olhou o monitor, era seu passatempo atual:
acompanhar as mudanças que o monitor tão escandaloso anunciava.
Sentiu vontade de puxar os fios, sair correndo de lá, ir até ela. Já
estava morrendo mesmo, pensou com irritação.
A entrada da enfermeira interrompeu o fluxo de pensamentos, com um gesto
impaciente dispensou a mulher de rosto simpático apontando o aparelho no
ouvido.
- Ana! Penso em você a cada segundo. Acredite: estou longe a
contragosto. Vamos falar de amenidades, me deixe aproveitar a ligação.
Que todo el mundo cabe en el teléfono
que no hay distancias grandes para nuestro
amor
que todo es perfecto cuando te siento
tan cerca aunque estes tan lejos
Que o mundo todo cabe num telefone
Que não ha distancias grandes para o nosso amor
Que tudo é perfeito quando te sinto
tão perto ainda que esteja tão longe
- Você quer que lhe espere? Seus advogados devem resolver isso em breve.– Ana disse com sua voz melodiosa – Posso dizer
em que voo eu estarei. Iremos juntos. Mamãe nem saberá!
- Eu adoraria, minha Ana, mas não sei quanto tempo terei de ficar aqui. –
doía mentir para ela, tentou acreditar que era para o melhor. – Como vai a aula
de canto?
- Estou indo bem, é o que dizem! – ela tentou rir – Não posso sequer me
despedir de você?
- Podemos fazer isso por telefone, não quero que me veja aqui – ele pigarreou,
uma dor forte no peito lhe fazendo prender a respiração. O monitor piscando e
apitando.
- Que barulho é esse Eric? – ela questiona alarmada.
- Nada demais. – ele respira com calma, até que os números comecem a
cair, a dor evanescer. – Feche os olhos e imagine... Fechou?
- Uhum – ela balbucia despertando um sorriso no rapaz.
- Nós dois, sentados na areia da praia, os seus cabelos voando
livremente, nossas mãos entrelaçadas. Você olhando para mim ao avistar uma ave
num rápido mergulho, seu sorriso tão espontâneo, me inclino até você e nos
beijamos, um beijo tímido que vai ganhando força, indo além de qualquer
sentimento antes experimentado. Minhas mãos tocando seu corpo com calma, você
tão envolvida, e tão calorosa retribuindo cada toque. Você se afasta e num meio
sorriso, levanta e me puxa para lhe acompanhar. Pouco antes de molharmos os pés
você tira o vestido longo, ficado apenas com a roupa de banho; me ajuda a fazer
o mesmo e corremos para o mar, a água está fria, você se joga nos meus braços,
volta a me beijar, nossas mãos já estão impacientes, queremos mais do que
beijos, por mais maravilhosos que sejam. O sol está se pondo e não nos damos
conta do que passa ao nosso redor, somos nós dois e o mundo. Um mundo que serve
de espectador para nosso amor, as ondas suaves e o grasnar dos pássaros numa
sinfonia tão aconchegante que aumenta nossas sensações. Com apenas mais um
beijo deixamos de ser dois, nos tornamos um. E esse um é tão repleto de amor,
de paz e de felicidade que é a melhor unidade que poderia existir em todo o
planeta. Por que eu sou seu e sinto que você é minha. E quando você se afasta e
sorri para mim, o êxtase que imagino estar em meu semblante e vejo no seu, me
fazem ter a certeza de que você é a mulher da minha vida. Eu te amo mais do que
a mim mesmo, e por você eu iria até a lua, até o inferno se você me pedisse.
Ana ainda de olhos fechados, sente as lágrimas quentes escorrendo por
seu rosto.
- Eric.... Eu só pediria que fosse até o céu comigo, nunca sozinho. Eu o
amo demais. – ela respira fundo, ele escuta batidas em alguns móveis. – Não posso
ir embora... Vou morrer longe de você.
Ouvindo tão linda confissão o rapaz não conseguiu mais controlar a
emoção, o monitor correu disparado, e por mais que ele tentasse estabilizar, seu
coração estava num ritmo impossível de controlar, segurou o telefone com força,
a respiração acelerada, o medo ao ver os três médicos na sua frente, a
enfermeira de rosto simpático com o semblante perturbado. Ele sabia que era o
fim, não havia mais nada a fazer contra a doença.
- Eric? Eric o que está acontecendo? – Ana pergunta apavorada ouvindo os
apitos do monitor. – Aonde você está? Estou indo até você! – ela gritou sem
sequer perceber.
- Amo você Ana! – ele respondeu e soltou o aparelho, seu corpo já não
lhe obedecia, pensou ter sorrido uma última vez antes de tudo ficar escuro e
então não ouviu, nem sentiu mais nada.
O telefone ficou caído entre os lençóis, nenhum dos profissionais o viu.
Ana continuava na linha ouvindo aturdida.
- Estamos perdendo ele.
- Vamos tentar uma reanimação.
O barulho das máquinas, a conversa entre os médicos. Ana rezava tendo
uma leve ideia do que estava acontecendo, mas que não permitia ganhar muito
espaço.
- ERIC! ERIC FALA COMIGO! – ela gritou com toda sua força, alguém batia
na porta do seu quarto, mas tudo que ela desejava era ser ouvida através do
aparelho. – ERIC!
Ouviu um chiado, temeu que a ligação tivesse encerrado, mas ouviu uma
voz calma.
- Alô?
- Passe para o Eric! Agora! – ela falou entre dentes, mal reconhecia sua
voz.
- Lamento senhora. Eric não resistiu.
- NÃO. NÃO. NÃOOO! – Ana berrava agarrada ao telefone.
A porta de seu quarto foi aberta, seu irmão lhe puxou num abraço apertado.
- Eric morreu, ele morreu... eu não estava lá.... se eu estivesse lá... –
ela choramingava de encontro ao ombro do irmão mais velho.
- Você não poderia ter feito nada. Eric já estava bem doente Ana. Você
fez o que pôde, lhe deu o amor que ele tanto queria. Ele foi em paz!
- Não... – ela murmurava – Ele não podia morrer!
Não sabia quanto tempo tinha levado agarrada em seu irmão como se
estivesse à deriva, parecia estar vendo tudo pela TV, Ricardo lhe colocando nos
braços, a empregada puxando os lençóis, ele lhe deitando com cuidado. A injeção
sendo aplicada em seu braço, dali a pouco tudo ficou escuro.
No dia seguinte assim que criou coragem para levantar, ligou a TV, e ouviu
aturdida a repórter falar que o filho do milionário Zacarias Bellmont tinha
falecido após uma parada cardíaca....
Ela tirou o som do aparelho, olhava as imagens que exibiam de Eric, tão
lindo, tão animado. Como? Por quê? Sua cabeça girava, caiu sentada na cama a
suas costas, olhava sem enxergar para a tela. As lágrimas que pensava ter
esgotado, voltaram a cair. Viu o frasco de calmantes que Ricardo lhe receitou,
mas ignorou, se o abrisse naquele momento, optaria por engolir todos de uma
vez.
Deitou e rememorou a última conversa por telefone, a sensação de estarem
juntos; a sensação e certeza de ser amada por ele.
Como seguiria em frente? Como viveria sem ele?
Outro dia, outra hora, outro ano, ela iria pensar em como sobreviver a
essa perda, mas não agora. Só lhe restava prantear o amor perdido.
Ana chorou até suas forças acabarem e o sono lhe vencer. Tinha sido bom,
enquanto durou.
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Abaixo o vídeo clipe com a música:
Nossa Dani :'( Que história dexxxtruidora é essa? Ana e Eric não ficaram juntos como tantos casais, devido ao nosso frágil corpo. Infelizmente, nossa passagem aqui é muito rápida, e para o Eric foi mais rápida ainda. Não teve a sorte de envelhecer junto com a amada. Que triste :'(
ResponderExcluirOlá Nayane!
ExcluirSabe que nem tinha planejado um final desse com antecedência? Acabou "criando vida" e fico muito feliz que você tirou um tempinho para ler e comentar.
Sim, nunca sabemos o quanto temos de vida, por isso é bom sempre aproveitar com sabedoria, embora tenhamos a mania de postergar. =/
Obrigada!
Nossa que história linda e ao mesmo tempo dolorosa :( É muito ruim estar longe das pessoas que a gente ama mesmo. Achei lindo o amor da Ana e do Eric, bem verdadeiro e singelo mesmo que tenham tido um final trágico :( ♥
ResponderExcluirJá fui ouvir a música também e ela é incrível!!!
Tais, obrigada! Infelizmente nem tudo são flores.
ExcluirEssa é uma das músicas que mais toco da dupla. Fico contente por ter gostado!
Obrigada!
Dani!
ResponderExcluirLi seu lindo texto, escutando a música e tudo pareceu ainda mais doloroso, tão trágico...
O que mais gostei foi a emoção que conseguiu transmitir durante os diálogos, a agonia de se ver perto da morte e longe da mulher amada...
Parabéns!
Desejo um mês cheio de prosperidade!
“A sabedoria consiste em compreender que o tempo dedicado ao trabalho nunca é perdido.” (Ralph Waldo Emerson)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE JUNHO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Olá, Rudy!
ExcluirEssa música é linda e cm estas vozes é impossível não mergulhar fundo na letra!
Extremamente feliz de ter conseguido expressar os sentimentos do casal de maneira perceptível!
Muito obrigada!
Ai meu Deus, moça!!! Por que me fez ler isso? Que dor no coração! Juro que eu dei uma lacrimejada, só quis entrar na história e fazer alguma coisa, que agonia socorro. Amei, simplesmente. Espero ver mais textos por aqui.
ResponderExcluirAbraços!
Oi, Eduarda! Eu não obriguei a ler, mas fico contente que o tenha feito! às vezes pendo para minha veia trágica, lamento tê-la deixado triste! No entanto fico animada em ver que gostou do resultado!
ExcluirObrigada!
Quebrou o meu coração, meus olhos estão cheios de lagrimas. E essa ultima frase diz tudo.
ResponderExcluirAmei, poste mais textos por favor, eu adorei
Ketellyn! Uma chorona como eu? Ao menos foi algo para recordar, né?
ExcluirObrigada!
Oi Dani ;)
ResponderExcluirVocê é muito talentosa, me deixou em lágrimas!
Senti muita pena da Ana e do Eric... meu Deus! E achei que você sabe transmitir muito os sentimentos dos personagens!
Não conhecia a música, mas ouvi-la só deixou a história mais real ainda, ja add ela no spotify.
Bjos
Oi, Isabela!
ExcluirObrigada, lamento pelas lágrimas, mas não nego minha alegria de ter conseguido envolvê-la na leitura e por ter alcançado o objetivo de passar bem os sentimentos deles!
A música mexeu com várias, bom que deu mais corpo ao texto. =) !
Manaaa ... Tô sem chão depois desse texto e acho que não tô acreditando muito no que li no final, foi tão lindo e triste na mesma medida que ao terminar de ler você não sabe o que fazer e nem como reagir ao sentir. O rogada por nós mostrar esse texto maravilhoso e devo dizer que você tem talento e se decidir seguir em frente com isso vai se sair bem.
ResponderExcluirRissia, muito grata por suas palavras, por ter lido o texto por completo. Fico mega feliz de saber que consegui mexer um pouco com seus sentimentos!
ExcluirHistória linda e emocionante! Sou fraca pra essas coisas, estou aqui com o coração apertado, só imaginando o choro desesperado dela, sabendo que nada pode faze pelo seu amor.
ResponderExcluirParabéns!
Kris, eu sou bem chorona... terminei o texto com o coração em frangalhos, mas vejo que valeu a pena, por perceber que o casal ganhou sua simpatia.
ExcluirObrigada!
Nossa Dani! Da próxima vez coloca um aviso no post "você pode chorar ao ler isso" que aí eu deixo pra ler em casa, sem chorar na frente das pessoas hahahaha Ah, que texto mais lindo e triste! :'(
ResponderExcluirHemely, mas então não seria um spoiler?! Entendo bem você... ontem mesmo estava lendo e me acabando de chorar, mas por sorte, estava trancada no quarto.
ExcluirObrigada!
Olá!
ResponderExcluirAdorei o seu texto, você escreve super bem!
QUE FINAL FOI ESSE? :'(
Quero ler mais textos seus! Parabéns!
Beijos
Olá Natalí! Que bom saber que você gostou! Estou desenferrujado e me aventurando além das fanfics. ;)
ExcluirObrigada!
Oi!
ResponderExcluirQue lindo seu texto, a historia foi para um lado inesperado me pegando de surpresa, ainda mais nesse finalzinho que da um dó no coração pelos personagens, mesmo triste, adorei !!
Oi, Suzana!
ExcluirObrigada! Foi um final surpreendente até para mim...alegre por ter mexido com seus sentimentos!
Menina, que história viu!
ResponderExcluirMe arrepiei em várias partes aqui kkk
Vou procurar a música mais tarde para ler novamente. Acabei salvando aqui para mostrar a alguns amigos.
O final foi o mais surpreendente para mim, realmente eu não esperava por isso.
Gostaria de ler mais textos assim, certo?
Beijão
Oi, Cosme! Ri com "Me arrepiei em várias partes aqui", contente de ter mexido com suas emoções, conforme o planejado!
ExcluirO final foi surpresa até para mim. Mas quando a ideia surgiu, agarrei sem dó!
Obrigada!
Oi.
ResponderExcluirQue história mais linda.
Mas ao mesmo tempo triste, é difícil ver um amor tão lindo como este destinado ao fracasso uma pena que não teve um final feliz em tudo, o final realmente me pegou de surpresa.
Bjs.
Ah Marlene, eu entendo você. Mas eu sou dessas que adoram um final triste às vezes. Contente que Ana e Eric tenham conquistado você.
ExcluirObrigada!
Oi, Dani!!
ResponderExcluirMenina que história linda e triste ao mesmo tempo!! A música é perfeita para essa história fantástica!! Parabéns, você escreveu maravilhosamente bem!!
Beijoss