O que faz com que uma moda “pegue”? O
que faz, por exemplo, com que uma expressão desconhecida e muitas vezes sem
sentido passe a fazer parte do vocabulário de milhões de jovens ou com que uma
combinação esdrúxula de roupas passe a ser obrigatória no guarda-roupa de certa
faixa etária? Pois é, o Jornalista Malcolm Gladwell, articulista da revista New
Yorker, tenta encontrar respostas para estas perguntas quando compara o
fenômeno social do alastramento de idéias simples com a disseminação de
epidemias em seu livro O Ponto de Desequilíbrio: Como Pequenas Coisas Podem
Fazer uma Grande Diferença.
O autor propõe uma análise interessante
quando se afasta do criador da idéia a ser disseminada para se concentrar nos
agentes responsáveis pela disseminação da idéia. Desta forma, utiliza-se de uma
metodologia conhecida entre os biólogos que estudam o ciclo das epidemias,
porém com objetivos opostos. Enquanto aqueles cientistas realizam seus estudos
com o objetivo de prevenir as disseminações endêmicas, Gladwell certamente tem
o interesse em incentivar a reprodução dos fenômenos sociais análogos. É claro,
estamos falando aqui do toque de Midas do marketing: o poder de fazer com que
uma idéia passe a ser adotada por um determinado grupo de pessoas da forma mais
barata e espontânea possível, isto é, através do Marketing boca-a-boca.
O autor apresenta alguns conceitos que ajudam
a explicar o fenômeno da disseminação de idéias. São eles:
• A Lei dos Poucos (the
law of the few), diz que uma das chaves para disseminar uma idéia de forma
endêmica e através do boca-a-boca, portanto, é aliciar um ou mais destes
agentes.
• O Índice de Grude
(stickiness), que é o fator responsável pelo alastramento
mais fácil ou mais difícil de uma idéia. Por mais que seja uma má idéia, o
vício em tabaco por parte dos adolescentes é bem mais “grudante” que, digamos,
uma campanha de incentivo à leitura voltada para esta mesma faixa etária. Outra
chave para se disseminar uma idéia é aumentar o índice de grude da mesma.
• O Poder do
Contexto (the power of context), diz que algumas idéias são
disseminadas mais facilmente por estarem mais de acordo com o momento e o
contexto em que surgem. Para estas idéias o caminho pode ser facilitado em
função da conjuntura sócio-político-econômica, por exemplo, como no caso da
redução do crime na cidade de Nova Iorque, provocada por pequenas providências
tais como a repressão aos puladores de catraca no metrô e aos pichadores e
depredadores no centro da cidade. O esforço foi bem recebido por uma população
cansada da impunidade e pronta a contribuir para o restabelecimento da ordem.
Reduzindo-se os pequenos delitos, facilitou-se o trabalho do poder público de
controlar e reduzir os crimes mais graves, e hoje se atribui este sucesso às
atitudes aparentemente inócuas de se evitar os pequenos furtos e abordagens
agressivas de mendigos. O Poder do Contexto tenta mostrar que algumas boas
idéias morreram sem atingir o sucesso esperado, porque surgiram antes ou depois
da passagem das condições ideais para que frutificassem, e ensina que uma das
chaves para a disseminação bem sucedida de idéias é formulá-las de forma a
estarem de acordo com o contexto em que se dispersarão.
• O Número Mágico
150 (the magic number 150). Gladwell cita a pesquisa do
antropólogo britânico Robin J.M. Dunbar que teoriza o número 150 como sendo o
limite de relacionamentos significativos que um indivíduo qualquer é capaz de
manter. Sempre que um determinado grupo ultrapassa o número de 150 componentes,
este grupo se divide. Dunbar atribui a raiz desta limitação ao tamanho do
córtex do ser humano, e Gladwell dá vários exemplos de como o fenômeno se
repete em situações cotidianas. Mais uma vez, uma das chaves para que as idéias
se disseminem: é preciso “polinizá-las” no máximo número possível de grupos de
150 componentes.
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