O Ponto de Desequilí­brio (M. Gladwell, 2000)


O Ponto de Desequilí­brio (M. Gladwell, 2000)


O que faz com que uma moda “pegue”? O que faz, por exemplo, com que uma expressão desconhecida e muitas vezes sem sentido passe a fazer parte do vocabulário de milhões de jovens ou com que uma combinação esdrúxula de roupas passe a ser obrigatória no guarda-roupa de certa faixa etária? Pois é, o Jornalista Malcolm Gladwell, articulista da revista New Yorker, tenta encontrar respostas para estas perguntas quando compara o fenômeno social do alastramento de idéias simples com a disseminação de epidemias em seu livro O Ponto de Desequilíbrio: Como Pequenas Coisas Podem Fazer uma Grande Diferença.

O autor propõe uma análise interessante quando se afasta do criador da idéia a ser disseminada para se concentrar nos agentes responsáveis pela disseminação da idéia. Desta forma, utiliza-se de uma metodologia conhecida entre os biólogos que estudam o ciclo das epidemias, porém com objetivos opostos. Enquanto aqueles cientistas realizam seus estudos com o objetivo de prevenir as disseminações endêmicas, Gladwell certamente tem o interesse em incentivar a reprodução dos fenômenos sociais análogos. É claro, estamos falando aqui do toque de Midas do marketing: o poder de fazer com que uma idéia passe a ser adotada por um determinado grupo de pessoas da forma mais barata e espontânea possível, isto é, através do Marketing boca-a-boca.

O autor apresenta alguns conceitos que ajudam a explicar o fenômeno da disseminação de idéias. São eles:

• A Lei dos Poucos (the law of the few), diz que uma das chaves para disseminar uma idéia de forma endêmica e através do boca-a-boca, portanto, é aliciar um ou mais destes agentes.

• O Índice de Grude (stickiness), que é o fator responsável pelo alastramento mais fácil ou mais difícil de uma idéia. Por mais que seja uma má idéia, o vício em tabaco por parte dos adolescentes é bem mais “grudante” que, digamos, uma campanha de incentivo à leitura voltada para esta mesma faixa etária. Outra chave para se disseminar uma idéia é aumentar o índice de grude da mesma.

• O Poder do Contexto (the power of context), diz que algumas idéias são disseminadas mais facilmente por estarem mais de acordo com o momento e o contexto em que surgem. Para estas idéias o caminho pode ser facilitado em função da conjuntura sócio-político-econômica, por exemplo, como no caso da redução do crime na cidade de Nova Iorque, provocada por pequenas providências tais como a repressão aos puladores de catraca no metrô e aos pichadores e depredadores no centro da cidade. O esforço foi bem recebido por uma população cansada da impunidade e pronta a contribuir para o restabelecimento da ordem. Reduzindo-se os pequenos delitos, facilitou-se o trabalho do poder público de controlar e reduzir os crimes mais graves, e hoje se atribui este sucesso às atitudes aparentemente inócuas de se evitar os pequenos furtos e abordagens agressivas de mendigos. O Poder do Contexto tenta mostrar que algumas boas idéias morreram sem atingir o sucesso esperado, porque surgiram antes ou depois da passagem das condições ideais para que frutificassem, e ensina que uma das chaves para a disseminação bem sucedida de idéias é formulá-las de forma a estarem de acordo com o contexto em que se dispersarão.

• O Número Mágico 150 (the magic number 150). Gladwell cita a pesquisa do antropólogo britânico Robin J.M. Dunbar que teoriza o número 150 como sendo o limite de relacionamentos significativos que um indivíduo qualquer é capaz de manter. Sempre que um determinado grupo ultrapassa o número de 150 componentes, este grupo se divide. Dunbar atribui a raiz desta limitação ao tamanho do córtex do ser humano, e Gladwell dá vários exemplos de como o fenômeno se repete em situações cotidianas. Mais uma vez, uma das chaves para que as idéias se disseminem: é preciso “polinizá-las” no máximo número possível de grupos de 150 componentes.

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