Ana Beatriz Barbosa Silva Ă© psiquiatra, palestrante e escritora, com pĂ³s-graduaĂ§Ă£o naUFRJ. MĂ©dica
graduada pela UERJ com pĂ³s-graduaĂ§Ă£o em psiquiatria pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Honoris Causa pela UniFMU (SP) e Presidente
da AEDDA – AssociaĂ§Ă£o dos Estudos do DistĂºrbio do DĂ©ficit de AtenĂ§Ă£o (SP).
Diretora tĂ©cnica das clĂnicas Medicina do Comportamento do Rio de Janeiro e em
SĂ£o Paulo, onde faz atendimento aos pacientes e supervisĂ£o dos profissionais de
sua equipe. Escritora, realiza palestras, conferĂªncias, consultorias e
entrevistas nos diversos meios de comunicaĂ§Ă£o, sobre variados temas do
comportamento humano.
Obras:
- Mentes Inquietas (2003)
- Sorria, VocĂª EstĂ¡ Sendo Filmado (2004)
- Mentes & Manias (2004)
- Mentes Insaciaveis: Anorexia, Bulimia e CompulsĂ£o Alimentar (2005)
- Mentes com Medo (2006)
- Mentes Perigosas: O Psicopata Mora ao Lado (2008)
- Mentes Inquietas: TDAH – DesatenĂ§Ă£o, Hiperatividade e Impusividade
(2009)
- Mentes Perigosas nas Escolas: Bullyng (2010)
- Mentes Ansiosas: Medo e ansiedade além dos limites
MENTES PERIGOSAS: O psicopata mora ao lado
Editora: Objetiva/Fontanar
Frios, manipuladores, cruĂ©is e destituĂdos de compaixĂ£o, culpa ou
remorso. Utilizam-se de seu charme e inteligĂªncia para impressionar, seduzir e
enganar quem atravessa o seu caminho. EstĂ£o camuflados de executivos
bem-sucedidos, bons polĂticos, bons amigos, "pais e mĂ£es de famĂlia"
e nĂ£o costumam levantar suspeitas sobre quem realmente sĂ£o.
No livro, ela afirma que psicopatas
nascem com um funcionamento cerebral que nĂ£o permite conexĂ£o com os outros
seres humanos – e por isso agem sem limites. Ana Beatriz diz ainda que Ă© um
equĂvoco relacionar psicopatas apenas com pessoas capazes de atos violentos ou
assassinatos em sĂ©rie. “Eles sĂ£o 4% da populaĂ§Ă£o e podem ser qualquer pessoa:
um colega de trabalho, o marido ou um filho”.
Entrevista dada à Revista Época
ÉPOCA – O que Ă© um psicopata?
Ana
Beatriz Barbosa Silva – Antes dessa definiĂ§Ă£o, Ă©
preciso saber o seguinte: a maldade existe. NĂ³s, latinos, afetivos, passionais,
temos dificuldade de admitir que existem pessoas mĂ¡s. Psico quer dizer mente; pathos,
doença. Mas o psicopata nĂ£o Ă© um doente mental da forma como nĂ³s o entendemos.
O doente mental Ă© o psicĂ³tico, que sofre com delĂrios, alucinações e nĂ£o tem
ciĂªncia do que faz. Vive uma realidade paralela. Se matar, terĂ¡ atenuantes. O
psicopata sabe exatamente o que estĂ¡ fazendo. Ele tem um transtorno de
personalidade. É um estado de ser no qual existe um excesso de razĂ£o e ausĂªncia
de emoĂ§Ă£o. Ele sabe o que faz, com quem e por quĂª. Mas nĂ£o tem empatia, a
capacidade de se pĂ´r no lugar do outro.
ÉPOCA – Qual Ă© a natureza da psicopatia? Os psicopatas nascem assim?
Ana Beatriz – Os psicopatas nascem com um cĂ©rebro diferente. Os seres humanos tĂªm o chamado sistema lĂmbico, a estrutura cerebral responsĂ¡vel por nossas emoções. É uma espĂ©cie de central emocional, o coraĂ§Ă£o da mente. Em 2000, dois brasileiros, o neurologista Ricardo Oliveira e o neurorradiologista Jorge Moll, descobriram a prova definitiva dessa diferença da mente psicopata, por meio da chamada ressonĂ¢ncia magnĂ©tica funcional, que mostra como o cĂ©rebro funciona de acordo com diferentes atividades. Nesse exame, mostraram imagens boas (belezas naturais, cenas de alegria) e outras chocantes (morte, sangue, violĂªncia, crianças maltratadas). Nas pessoas normais, o sistema lĂmbico reagia de forma diversa. Nos psicopatas, nĂ£o hĂ¡ diferença. O sistema lĂmbico dessas pessoas nĂ£o funciona. O pĂ´r do sol ou uma criança sendo espancada geram as mesmas reações. Da mesma forma, nĂ£o hĂ¡ repercussĂ£o no corpo. Eles nĂ£o tĂªm taquicardia, nĂ£o suam de nervoso. Por isso passam tranqĂ¼ilamente num detector de mentiras.
Ana Beatriz – Os psicopatas nascem com um cĂ©rebro diferente. Os seres humanos tĂªm o chamado sistema lĂmbico, a estrutura cerebral responsĂ¡vel por nossas emoções. É uma espĂ©cie de central emocional, o coraĂ§Ă£o da mente. Em 2000, dois brasileiros, o neurologista Ricardo Oliveira e o neurorradiologista Jorge Moll, descobriram a prova definitiva dessa diferença da mente psicopata, por meio da chamada ressonĂ¢ncia magnĂ©tica funcional, que mostra como o cĂ©rebro funciona de acordo com diferentes atividades. Nesse exame, mostraram imagens boas (belezas naturais, cenas de alegria) e outras chocantes (morte, sangue, violĂªncia, crianças maltratadas). Nas pessoas normais, o sistema lĂmbico reagia de forma diversa. Nos psicopatas, nĂ£o hĂ¡ diferença. O sistema lĂmbico dessas pessoas nĂ£o funciona. O pĂ´r do sol ou uma criança sendo espancada geram as mesmas reações. Da mesma forma, nĂ£o hĂ¡ repercussĂ£o no corpo. Eles nĂ£o tĂªm taquicardia, nĂ£o suam de nervoso. Por isso passam tranqĂ¼ilamente num detector de mentiras.
ÉPOCA – HĂ¡ muitos psicopatas no mundo?
Ana
Beatriz – Mais do que se imagina. Cerca de
quatro em cada cem pessoas, segundo as estatĂsticas americanas. Mais homens do
que mulheres. Todos tĂªm em comum a ausĂªncia do sentimento em relaĂ§Ă£o Ă s outras
pessoas. NĂ£o conseguem se colocar no lugar do outro, daĂ agirem de forma fria e
sem arrependimentos. O que caracteriza o psicopata nĂ£o Ă© o nĂvel do crime, mas
a forma como ele o comete, a predisposiĂ§Ă£o para planejar e executar sem nenhum
sentimento em relaĂ§Ă£o Ă vĂtima.
ÉPOCA – Como saber se estamos convivendo com um psicopata?
Ana Beatriz – NĂ£o Ă© tĂ£o fĂ¡cil detectĂ¡-los, especialmente quando temos alguma ligaĂ§Ă£o afetiva com eles. Maridos que espancam suas esposas, por exemplo: as estatĂsticas mostram que 25% sĂ£o psicopatas, e grande parte delas nĂ£o aceita a verdade. Mas hĂ¡ algumas caracterĂsticas bĂ¡sicas entre eles: falam muito de si mesmos, mentem e nĂ£o se constrangem quando descobertos, tĂªm postura arrogante e intimidadora por um lado, mas sĂ£o charmosos e sedutores por outro. Costumam contar histĂ³rias tristes, em que sĂ£o herĂ³is e generosos. Manipulam as pessoas por meio de elogios desmedidos. Se tiver de começar a desconfiar de alguĂ©m, desconfie dos bajuladores excessivos. Chefes tambĂ©m podem ser psicopatas – o que costuma se manifestar pelo assĂ©dio moral aos funcionĂ¡rios. Um dado interessante Ă© que eles nĂ£o sentem compaixĂ£o, pena, remorso. Mas sabem, cognitivamente, o que Ă© ter esses sentimentos. DaĂ representarem tĂ£o bem – e Ă s vezes exageradamente – a vĂtima.
Ana Beatriz – NĂ£o Ă© tĂ£o fĂ¡cil detectĂ¡-los, especialmente quando temos alguma ligaĂ§Ă£o afetiva com eles. Maridos que espancam suas esposas, por exemplo: as estatĂsticas mostram que 25% sĂ£o psicopatas, e grande parte delas nĂ£o aceita a verdade. Mas hĂ¡ algumas caracterĂsticas bĂ¡sicas entre eles: falam muito de si mesmos, mentem e nĂ£o se constrangem quando descobertos, tĂªm postura arrogante e intimidadora por um lado, mas sĂ£o charmosos e sedutores por outro. Costumam contar histĂ³rias tristes, em que sĂ£o herĂ³is e generosos. Manipulam as pessoas por meio de elogios desmedidos. Se tiver de começar a desconfiar de alguĂ©m, desconfie dos bajuladores excessivos. Chefes tambĂ©m podem ser psicopatas – o que costuma se manifestar pelo assĂ©dio moral aos funcionĂ¡rios. Um dado interessante Ă© que eles nĂ£o sentem compaixĂ£o, pena, remorso. Mas sabem, cognitivamente, o que Ă© ter esses sentimentos. DaĂ representarem tĂ£o bem – e Ă s vezes exageradamente – a vĂtima.
ÉPOCA – E a verdadeira vĂtima quem Ă©?
Ana
Beatriz – Quase sempre pessoas generosas, em
especial aquelas que nĂ£o acreditam no mal e costumam tentar justificar as
atitudes de todo mundo.
ÉPOCA – Um assassino pode nĂ£o ser psicopata e um psicopata pode jamais
matar?
Ana
Beatriz – Sim, isso Ă© muito importante. É um
equĂvoco pensar que apenas assassinos seriais sĂ£o psicopatas, e um dos
objetivos de meu livro Ă© justamente este: mostrar que a psicopatia nĂ£o estĂ¡
ligada apenas ao homicĂdio. Existem assassinos passionais que jamais matariam
novamente. Um exemplo Ă© a mulher que matou o estuprador do filho dela de 4
anos. Ela nada tem de psicopata. Ao contrĂ¡rio, apesar da violĂªncia, o crime
dela pode ser compreensĂvel para muitas mĂ£es. Ao passo que um psicopata pode
nunca ter a necessidade de assassinar, resolvendo suas questões matando vidas
afetivas e financeiras, prejudicando pessoas de forma irreversĂvel, mas sem matĂ¡-las.
Na populaĂ§Ă£o carcerĂ¡ria, segundo pesquisas feitas no CanadĂ¡ e nos Estados
Unidos, hĂ¡ de 20% a 25% de psicopatas.
ÉPOCA – Seu livro comenta o assassinato da atriz Daniella Perez. É um caso
clĂ¡ssico de psicopatia?
Ana
Beatriz – O caso tem caracterĂsticas que levam
a esse diagnĂ³stico. Guilherme de PĂ¡dua premeditou a morte da vĂtima, a atraiu
para o crime e horas depois foi prestar solidariedade Ă mĂ£e da moça.
ÉPOCA – Como vocĂª classificaria Lindemberg Fernandes Alves, que seqĂ¼estrou
e assassinou a ex-namorada EloĂ¡? Ele seria um psicopata?
Ana Beatriz – O ato Ă© de uma personalidade psicopĂ¡tica. Ele usou a razĂ£o para dominar os refĂ©ns e controlar tudo em volta. Atirou na multidĂ£o e disse que era o “prĂncipe do gueto”, “o cara”. Deu entrevistas por telefone, conseguiu que uma das refĂ©ns voltasse ao cativeiro. No fim, com a invasĂ£o da polĂcia, nĂ£o hesitou em atirar nas duas. Ele começou a namorar a EloĂ¡ quando ela tinha 12 anos. Certamente a tratava como propriedade, nĂ£o admitindo perder esse controle.
Ana Beatriz – O ato Ă© de uma personalidade psicopĂ¡tica. Ele usou a razĂ£o para dominar os refĂ©ns e controlar tudo em volta. Atirou na multidĂ£o e disse que era o “prĂncipe do gueto”, “o cara”. Deu entrevistas por telefone, conseguiu que uma das refĂ©ns voltasse ao cativeiro. No fim, com a invasĂ£o da polĂcia, nĂ£o hesitou em atirar nas duas. Ele começou a namorar a EloĂ¡ quando ela tinha 12 anos. Certamente a tratava como propriedade, nĂ£o admitindo perder esse controle.
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